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“ Charles Péguy dizia que tudo começa em mística e acaba em política. Desde sempre que a actividade política vive condicionada por esta verificação. No começo, estão os ideais, os princípios, a generosidade das causas, mas o confronto com a realidade suscita a necessidade de conciliar, de encontrar compromissos, de lidar com a complexidade dos fenómenos sociais. Sempre assim aconteceu. Por isso, os cidadãos estão colocados sempre perante o dilema que contrapõe a formulação abstracta dos valores ético-políticos e a aplicação prática e impura dos mesmos. Daí as desilusões, a predominância do curto prazo e do imediato e o esquecimento da mística e dos ideais. E, nos dias de hoje, a força dos meios de comunicação de massa, só reforça esta transigência com o imediato e com a ilusão. Res non verba, coisas e não palavras, diziam os clássicos, para sinalizar à vida política a necessidade de cuidar da resolução dos problemas, em lugar do primado das respostas vagas e das promessas.
Na política, insistia o poeta de Peregrinatio ad Loca Infecta: «Todo o pensamento e toda a acção levam em si aquilo que os contradiz e destrói, aquilo que os fará inferiores à realidade que os ultrapassa.» O pensamento e a acção, os princípios e a realidade «criam-se mutuamente». É o âmago da ética que está nas preocupações do autor de O Príncipe. Encontramo-nos, no fundo, perante a tragédia humana retratada pelo maquiavelismo. A mística de Péguy gera uma «outra realidade» - a política, no sentido de domínio da imperfeição, mas, simultaneamente, como domínio paradoxal da exigência e da justiça. “
Advogado. Presidente do Centro Nacional de Cultura.
in Desafios à Igreja de Bento XVI, A César o que é de César, pp.27-29, Casa das Letras/Editorial Notícias, 1ª Edição Novembro de 2005.
A pena capital
Diogo Pires Aurélio
Professor Universitário
in Diário de Notícias de 7.11.2006
A reacção não foi imediata, muito menos espontânea, mas surgiu, finalmente, algumas horas após a sentença contra Saddam Hussein : a União Europeia, através da presidência finlandesa, veio lembrar a sua Carta de Direitos Fundamentais, proclamada em 2000, na qual se diz, textualmente, que "ninguém pode ser condenado à pena de morte, nem executado".
(...)
Há, decerto, coisas mais prementes que esta em Bagdad. Dificilmente, porém, haverá ocasião mais adequada para reafirmar a condenação da pena de morte. Noutras circunstâncias, poderia confundir-se com moleza ou caridade. No caso de Saddam Hussein , em que tudo parece estar do lado dos que defendem, no mínimo, a morte do ditador, ir contra a pena capital é exibir o lado absoluto e inegociável que têm os princípios. Não me parece que isso prejudique a Europa, os EUA ou o Iraque.
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