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por Tó Zé Rodrigues, em 30.07.19

Bencatel

Bencatel (aldeia perto de Vila Viçosa)

Recebi em tempos um simpático e-mail de um amigo ligado a esta aldeia por laços afectivos onde me questionava sobre a possível origem árabe da palavra Bencatel.

Dizia ele que lá passou muito tempo da sua infância e juventude e que, cito, "o meu pai, um dia, perguntou a um árabe o significado da palavra (Bencatel), ao que ele retorquiu, não sei se brincando, que é ben-filho catel-assassino ou executor".

Então, tentei a consulta no Vocabulário Português de Origem Árabe, de J.P.Machado, onde consta que a origem da palavra é obscura, existindo pelo menos um elemento arábico; esse elemento reconhecemos ser o Ben, que de facto significa "filho de" e o autor acrescenta ainda que a terminação -el sugere influência moçarábica.

Prevaleceu o desafio do meu amigo e a pista do árabe.

Como disse alguém "está tudo nos livros" e  eu tenho um há muito tempo na prateleira e sem utilização; é o Arabic-English Dictionary, The Hans Wehr Dictionary of Modern Written Arabic, Edited by J M Cowan,1976, comprado em Maio de 1977 a conselho do então meu professor de lingua, história e cultura árabe e islâmica, Prof.Doutor António Dias Farinha.
 
Depois de tantos anos, a busca foi uma aventura e um prazer; a pista do catel também ajudou; mas tive que ir buscar um alifato (alfabeto árabe) pois já não o sabia de cor, para poder procurar a palavra no dicionário.

Assim lá encontrei a palavra árabe actual que me parece mais de acordo com a pronúncia catel.
 

IMG_20190730_023807.jpgArabic-English Dictionary, The Hans Wehr Dictionary of Modern Written Arabic, Edited by J M Cowan,1976, pag 743

Voltando à explicação do árabe, e sem querer contestar a sua interpretação, devo referir que em regra as palavras árabes são construidas a partir de uma raiz com três consoantes. Neste caso seria q-t-l. A partir daí há toda uma grande familia de palavras que podem existir, onde essa raiz está presente, e onde se podem juntar prefixos ou sufixos, vogais longas ou breves, constituindo novas palavras com diferentes significados. Também, como no português, por vezes o contexto poderá alterar o significado que uma palavra pode assumir.

No caso, esta palavra
"catil", com i longo, parece-me ser a mais semelhante a catel (em árabe não existe o " e "); assim a tradução proposta é de "morto em batalha"   ou de "alguém morto em batalha" .

Se porventura fosse esse o significado correspondente a catel, poderia sugerir-se que Bencatel significava Filho do Morto em Batalha.
 
Nota: tomei conhecimento recentemente do significado do nome Bencatel proposto por Adalberto Alves  (salvo erro da minha parte) como sendo "Filho da Vítima"
 
Texto editado em 30/07/2019.
 
[ tzrajar 201907301738 ]

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publicado às 17:38


por Tó Zé Rodrigues, em 10.10.08

Nome de fera

“Jean-Léon! Yohannes Leo! (...) Leo. Leone. Curieuse habitude qu'ont les hommes de se donner ainsi les noms des fauves qui les terrorisent, rarement ceux des animaux qui leur sont dévoués. On veut bient s'appeler loup, mais pas chien. (...)  ”

 

  Léon l' Africain  in Leon L’Africain de Amin Maalouf, Edição de J.-C. Lattès,1986, pg.303.

 

Nota: do mesmo autor outra citação aqui .  

                                                                                                                                                    Tó Zé

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publicado às 23:12


por Tó Zé Rodrigues, em 25.08.08

A fala

"Era verdade. Durante uns dias o cão [ Kurika] não falou. Digo bem: não falou. A fala é muito complicada. Está antes da palavra, como a poesia. E aquele cão falava. Falava com os seus vários modos de silêncio, falava com os olhos, falava, até, com o rabo, falava com o andar, com as inclinações da cabeça, com o levantar ou baixar das orelhas. Daquela vez calou-se por completo. Não falou com nenhum dos seus sinais. Nem sequer com o seu silêncio."

 

Manuel Alegre, in  "Cão Como Nós",

   Publicações Dom Quixote, Janeiro de 2008, 16ª edição, pág.s 119.

 

Obs.:  Kurika estava zangado pois pensava que o tinham abandonado.

 

Tó Zé

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publicado às 04:57


por Tó Zé Rodrigues, em 31.05.08

Barack Obama: a propósito das campanhas

 

A campanha presidencial norte-americana tomou conta do nosso espaço noticioso há longos meses; e definido que ficou qual o candidato republicano já perdi a conta aos meses e às eleições dos delegados ao congresso democrata, que se dividem entre os apoiantes dos dois que ainda procuram a primazia nesse partido - Barack Obama e Hillary Clinton.

 

Embora não tenha podido, ou sabido, acompanhar o processo como gostaria, tenho aqui e ali tentado estar informado, compreender e refletir sobre alguns factos e situações, e sobre outras "campanhas" dentro das campanhas própriamente ditas.

 

Sem deixar de ler, ver ou ouvir  as reportagens mais longas em diversos meios de comunicação, tenho encontrado com regularidade no Diário de Notícias,  em breves artigos da autoria de Ferreira Fernandes excelentes notas do que se está a passar.

 

Na edição de hoje, sob o título  "Não Há Missas Grátis" conta as peripécias da campanha de Barack, que envolvem em momentos e contextos diferentes o protestante Jemeriah Wright e o católico Michael Pfleger, que oficiam na mesma cidade, Chicago, em igrejas distantes poucos quarteirões uma da outra.

 

A mistura explosiva que aqueles responsáveis religiosos promovem contém politica, raça e religião.

 

Conclui Ferreira Fernandes no seu artigo acima referenciado

 

"Obama, que pauta a sua candidatura por não embarcar nessas tolices, mais uma vez teve de pedir desculpa pelos seus amigos religiosos. O problema destes é que acreditam que os rebanhos reconhecem melhor o caminho do Senhor com tabuletas a preto e branco."

 

            in Diário de Notícias, um ponto é tudo, "Não Há Missas Grátis" , 31 de Maio de 2008, pág. 64.

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publicado às 09:30


por Tó Zé Rodrigues, em 10.05.08

A riqueza

 

“La richesse, frères croyants, ne se mesure pas aux choses qu’on possède mais à celles don’t sait se passer.”

 

  Mohamed le peseur, pai de Hassan ( Leão, O Africano),

  in Leon L’Africain, de Amin Maalouf, Edição de J.-C. Lattès,1986, pg.43.

 

Nota: Tanscrever ou fazer uma citação não é nem pretende ser sinal de erudição, nem tão pouco de compreensão do que é citado. Para mais quando a mesma está numa lingua estrangeira. Pode ser no entanto um objecto de curiosidade, reflexão  e partilha.

                                                                                                                                                    Tó Zé

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publicado às 15:08


por Tó Zé Rodrigues, em 27.10.07

O Alcorão: extractos de antiga entrevista

Relembro abaixo dois antigos apontamentos de entrevista, com o falecido Dr. Suleiman Valy Mamede, ( S.V.M.), à época Presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa, mas que me parecem manter o interesse, e talvez também alguma actualidade, apesar da evolução política, social e religiosa entretanto ocorrida nesse vasto mundo de povos, nações e países onde se professa a religião muçulmana, o qual deverá hoje abranger perto de mil milhões de pessoas, senão mesmo mais.

I – Alcorão e não Corão

     “Expresso ( Exp .) – Uma última pergunta o Corão …
     S.V.M . – O Alcorão.      (…)      A palavra Alcorão entrou e fixou-se na língua portuguesa tal como existe em árabe, com o artigo Al. Não esqueça que nós não dizemos por exemplo, garbe ”, ou faiate ”, ou “cântara”. Porque há certas palavras que entraram no léxico português com o artigo e tal como se diziam em árabe. Essa é a opinião dos filólogos portugueses. Posso citar-lhes até o maior filólogo e arabista português vivo, que é indiscutivelmente o dr.José Pedro Machado, e que diz precisamente isso : Alcântara entrou e fixou-se tal como existe em árabe, com o artigo al. O mesmo se passa com alfinete, Algarve e logicamente, com Alcorão. “Corão” é um galicismo, e já Eça de Queiroz dizia que nós sempre tivemos a tendência de copiar o francês. E copiámos Le Coran ” … “


II – O Alcorão e a lei civil


     “ Exp . – Voltando, então, à última pergunta: a doutrina do Alcorão, tal como é praticada hoje nalguns países árabes, como autêntico código civil. Parece-lhe inteiramente correcto, ou há aí um pouco, digamos, de exagero, de excesso de zelo religioso?
     S.V.M . – Eu faria aí uma correcção, que é a seguinte: que eu saiba, o Alcorão só em dois ou três países é que efectivamente passou a ser um código de vida, isto é, penetra em todos os sectores da vida. Na maior parte dos países islâmicos, actualmente – é o caso da Argélia, da Líbia, ou do Egipto – só o Direito de Família é que se cinge ao Alcorão. No Direito Sucessório também se citam casos em que temos de ir buscar cláusulas do Alcorão. Mas só nestes casos. Porém, todos aqueles que não quiserem seguir essa lei, podem declará-lo, por escrito. É o caso, por exemplo, no Egipto, dos coptas, cristãos (à semelhança do que aliás aconteceu, durante o período, muçulmano, aqui na Península Ibérica – que durou mais de cinco séculos, em que os cristãos, então designados de “moçárabes”, até nos tribunais podiam optar pela sua lei). Nós não podemos ter a pretensão, nem queremos, obrigá-los a seguir o Alcorão, porque isso iria contrariar o verdadeiro espírito do próprio Alcorão, que admite a tolerância, por um lado, e a ecumenicidade por outro. Temos concretamente no Alcorão a frase: “Tu crês a tua verdade, eu creio a minha, tu segues o teu caminho, eu sigo o meu”. Isto é muito simples mas muito claro. Aliás, o Alcorão não poderia de modo algum responder às questões que o próprio século XX nos levanta. Por isso, existem os intérpretes do Alcorão – é uma ciência mesmo – para preencheram as lacunas que vão surgindo à medida que os tempos vão passando … “


    Estes apontamentos são  Extractos de uma entrevista do Dr. Suleiman Valy Mamede, então Presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa, ao Semanário Lisboeta “Expresso”, de 18.3.77, conforme publicada no Boletim “O Islão – Órgão da Comunidade Islâmica de Lisboa", Ano X, Maio-Agosto de 1977-Tomo III Nº 11/12, a pp.7-9 ; selecção dos extractos e transcrição dos mesmos (que creio fiel) da minha responsabilidade.


Nota : esta entrevista já tinha sido objecto de uma outra referência mais extensa num outro local, sob a minha responsabilidade, debaixo do título "O Islão e a Sociedade"

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publicado às 07:28


por Tó Zé Rodrigues, em 19.03.07

Constança Capdeville (1937-1992)

 

No 70 º Aniversário do seu nascimento, a Junta de Freguesia de Caxias homenageou Constança Capddeville e divulgou um breve resumo biográfico que abaixo
 

CITAMOS

" Nascida em Barcelona em 16 de Março de 1937, foi nesta vila e freguesia de Caxias que viveu desde jovem e aqui faleceu em 4 de Fevereiro de 1992.

- Compositora e Professora Universitária;

- Membro do Conselho Português da Música;

- Membro da Associació Catalana de Compositors de Barcelona;

- Medalha de Mérito Cultural em 1990 (Estado Português);

- Comenda da Ordem de Santiago da Espada em Junho de 1992 a título póstumo (Estado Português).

 

Iniciou a sua brilhante carreira ainda muito jovem, escrevendo várias peças, sobretudo para piano. Nelas se descortinava já indícios da autora que mais tarde se veio a revelar. Realmente pouco a pouco, o seu espírito original e criativo evoluiu no sentido de uma linguagem musical de vanguarda.

Em 1969 a sua carreira sofre um impulso decisivo com a encomenda da Fundação Calouste Gulbenkian da sua obra "Diferenças Sobre o Intervalo" que mostrava já uma linguagem musical personalizada (obra com 1ª audição dada pela Orquestra Gulbenkian no XIII Festival de Música Gulbenkian).

Apesar da sua curta carreira - faleceu com apenas 55 anos de idade - escreveu cerca de 8 dezenas de obras distribuídas por vários géneros que vão da música para orquestra à música para teatro e cinema e até à encenação.

Foram de sua iniciativa os projectos:

Convivium Musicum - música de cãmara -

ColecViva - música para filme -

Opus Sic - música para filme

Palavras para Dentro - músicas e palavras encenadas

 

As suas obras foram executadas com sucesso em muitos dos mais importantes festivais nacionais e internacionais de música.

Constança Capdeville distinguiu-se igualmente como pedagoga tendo percorrido todos os graus de ensino musical teórico no Conservatório Nacional e na Universidade Nova de Lisboa. "

FIM DE CITAÇÃO

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publicado às 06:43


por Tó Zé Rodrigues, em 18.01.07

Aldrabão

Dizia hoje ao almoço, com uma certa graça, um colega e amigo, que Aldrabão era o nome árabe da nossa profissão.


Nome português de muitas profissões, digo eu, que nós não somos invejosos.


Aliás, quando estamos mesmo zangados aldrabão é o outro, mas quando descontraímos somos capazes de reconhecer que aqui ou ali também lhe vestimos a pele.


Sim, porque mesmo que não tenhamos feito nada para o merecer, aos olhos dos outros não deixaremos de o ser. Os políticos que o digam.


Mas amigo de saber mais um pouco deste legado tão rico fui consultar uma obra, Vocabulário Português de Origem Árabe, do já falecido José Pedro Machado, incansável estudioso, filólogo e arabista.


Segundo ele a palavra vem do árabe al-bardān , com o significado original de «louco».


Daí viria o antigo alvar­dan (séc. III, Cantigas de Santa Maria editadas por Walter Mettmann , Coimbra, 1958-1972, 401, vs.68 ),e posteriormente albardão (séc. XV, Infante D. Pedro, Livro dos Ofícios, p.68 ).
 

Mais tarde, por influência de aldraba, teria surgido   aldra­-bão ( Bluteau , 1712, aumentativo de aldraba; em 1871 , «trapaceiro»).


À parte pequenas "aldrabices", do dia à dia, que cada qual gere à sua maneira, e que por vezes muito nos fazem rir; tantas vezes de nós próprios; valha-nos isso;  penso que o rigor e a verdade são sempre os melhores cartões de visita, sejam pessoais sejam profissionais.


Ao nível das empresas, sectores de actividade, nos sectores privado ou público, e ao nível do País;  estou convicto que uma imagem de rigor e verdade, é fundamental para o seu progresso,  e deve estar assente em realidades concretas e comprováveis e não é compatível com a imagem do Aldrabão.

Assim creio que ao mesmo tempo que nos rimos da Aldrabice em geral, devemos promover o Rigor naquilo que depende de nós e apontar menos o Aldrabão que há no outro.

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publicado às 21:01


por Tó Zé Rodrigues, em 02.01.07

João de Freitas Branco (1922-1989)

João de Freitas Branco faria 85 anos de idade no próximo dia 10 de Janeiro, se ainda estivesse entre nós.

Musicólogo e matemático,  no dizer de Jorge Calado do Instituto Superior Técnico, "João de Freitas Branco foi, sem dúvida, o grande educador musical dos portugueses".

Foi filho único do compositor e musicólogo Luís de Freitas Branco.

Na imagem em baixo reproduz-se a capa de uma simpática edição biográfica, que a Câmara Municipal de Oeiras (CMO ) lhe dedicou, com texto de Carla Rocha com João Maria de Freitas Branco.

A fotografia, conforme ficha técnica da publicação, será um original de João Maria de Freitas Branco (seu filho).

                          

Com base nessa informação, por um lado, e com referências bibliográficas obtidas, por outro; as quais não dispensam nem a leitura da publicação da CMO , supra mencionada, nem o texto "Cronologia", publicado em Arte Musical, Novembro de 2001 ( FREITAS BRANCO, João Maria de; e  AZEVEDO, João Borges de);  está disponibilizada na Wikipédia uma breve resenha biográfica e a referência a alguns textos da autoria de João de Freitas Branco ou por ele traduzidos a que poderá aceder por uma questão de facilidade clicando aqui ou escrevendo na barra de pesquisa do browser  :

               http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_de_Freitas_Branco

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publicado às 21:20


"Sítio onde está luz; lanterna, farol" - José Pedro Machado, Vocabulário Português de Origem Árabe

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